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Arte urbana num grito ambiental

sexta, 10 de abril

Com uma das paredes do Multiusos como tela, Bordalo II já está a trabalhar na sua próxima instalação de arte urbana. O título será revelado no fim, mas foi o Guarda-Rios que posou para o jovem artista e o encantou com a sua beleza. A obra estará em execução ao longo da ObservaRia 2015 Estarreja Birdwatching Fair, que decorre nos próximos dias 11 e 12 de abril.

Para-choques e caixotes do lixo estragados são alguns dos desperdícios que Artur Silva, conhecido por Bordalo II, vai utilizar para dar forma ao Guarda-Rios. Uma das espécies que pertence à vida do Rio Antuã e muito acarinhada pelas linhas de água do Baixo Vouga Lagunar será ampliada em alto-relevo numa das paredes do Multiusos, no Parque Municipal do Antuã. A intervenção de Bordalo II irá pertencer à coleção “Big Trash Animals”, “que tem a ver com o facto dos animais serem a representação da natureza e uma vítima da ação do homem”, explicou o artista lisboeta de 27 anos. O processo criativo e a intervenção de Bordalo II, alusiva ao património natural do Município de Estarreja, serão apresentados na sessão de abertura da ObservaRia 2015, este sábado, 11 de abril. 

“Olhos de Coruja” é uma das obras de arte urbana mais conhecidas de Bordalo II, referida como uma das melhores do mundo pela Street Art News, em 2014. As aves e o mundo animal vincam o seu trabalho, bem como a vivacidade das cores utilizadas e a tridimensionalidade conseguida através da utilização de lixo, desperdícios e objetos obsoletos. Nas mãos de Bordalo II o lixo é arte e um dedo apontado ao consumismo: “a poluição, os desperdícios, todo esse fruto do capitalismo muito presente na sociedade dos dias de hoje têm reflexos que vão destruindo o nosso planeta pouco a pouco.” Apesar da vertente ecológica, patente na reciclagem de objetos em desuso, o desconforto de Bordalo II face à pegada ambiental deixada pelo Homem é o principal impulso das suas criações. Para o jovem artista plástico, “os animais são provavelmente a vítima mais direta” do consumo exacerbado. Nas suas intervenções de arte urbana “a ideia acaba por ser construir a imagem da vítima com tudo aquilo que a mata”.

 

O “segundo” de uma família de artistas

É com o pseudónimo Bordalo II que Artur Silva assina as suas intervenções de arte urbana. Nome que acaba por dar “continuidade ao trabalho” do avô, Real Bordalo, pintor da cidade de Lisboa, “especialmente a óleo e aguarela, aqueles clássicos das ruelas, dos recantos, dos elétricos”. As paredes que Real Bordalo reproduzia são a tela que Bordalo II prefere. A herança plástica do avô aliada ao graffiti levaram o jovem artista a evoluir e a chegar ao vocabulário artístico que atualmente apresenta e que tem merecido visibilidade mundial.

“Uma das coisas mais importantes de pintar na rua é poder comunicar com as pessoas, poder passar uma mensagem, uma ideia que mais gente pode ver, absorver, concordar, discordar ou ignorar.” Mensagem que ficará patente de forma permanente no exterior do Multiusos de Estarreja. O mote foi dado pela 2ª edição da ObservaRia, a responsabilidade coletiva de conservação do património natural perdura no tempo.

Arte urbana na ObservaRia'15